segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Humildade e Honestidade

A humildade e a honestidade sempre me foram ensinadas pelos meus pais, tios e avó como sendo os traços característicos da nossa família. Somos o que somos não o que temos, era a frase preferida do meu pai. Qualquer manifestação de arrogância, inveja ou vaidade era apontada por todos como sendo defeitos que não deveríamos seguir. É muito feio, dizia o meu Pai. Ele que na altura tinha um curso superior, mas que não deixava ninguém tratá-lo por Engenheiro. Só na obra, por respeito, fora de lá era ofensa.

Ao longo destes anos a frase do meu pai ocasionalmente vem-me ao pensamento, somos o que somos e não o que temos.

Hoje, durante uma reunião, alguém se dirigiu a mim nestes termos:
- A Senhora sabe quem é a minha família ?
- O Senhor é filho de Fulano e Fulana. Mais não sei, não está constante do processo. Mas qual é o motivo dessa chamada de atenção?
- O meus Pais são donos de uma cadeia de Tal e Tal. As nossas empresas são reconhecidas internacionalmente. Não reconhece o nome do meu Pai? A minha família é muito importante neste País.
(respirei fundo e tentei acalmar-me, hoje não, hoje não…)
- Ouça, ainda bem que se orgulha da sua família, só lhe fica bem. Mas isso não o impede de estar numa situação complicada. Como é que pretende resolver isso?
- Como é que eu quero resolver? Não me faltava mais nada, vocês que resolvam, ora essa. Apresentem-me soluções para podermos negociar.
- A fase da negociação está ultrapassada uma vez que em todas as tentativas o Senhor não cumpriu os planos acordados. Tem consciência do passo seguinte, não tem?
- Que vá para Tribunal, não quero saber. O meu Advogado irá entrar em contacto convosco. Isto não é forma de tratar um cliente na minha posição.

Hoje não respondi à letra, também não iria dar grande resultado, nem me irritei nem me alterei, de maneira nenhuma. Hoje tive pena. Pena de alguém que vive na sombra da família, e a coberto dessa sombra acha que tudo lhe é permitido. Sem fingimentos ou remorsos. Um parasita que vai saltitando aqui e ali, levando uma vida faustosa, achando que toda a gente tem a obrigação paternalista de o ajudar a manter esse mesmo nível, apesar de não ter nenhum suporte financeiro para tal.
 
Enquanto finalizava o processo, agradeci mentalmente ao meu pai pelos conselhos que na altura me pareceram demais, mas que agora, á luz do que diariamente passa por mim, fazem todo o sentido.