segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Dog day

Há dias em que me apetecia ser cão (cadela seria mais apropriado, mas dada a carga negativa associada à palavra, não necessária a este texto perfeitamente inócuo, a associação vai ter de ser ao cão e não se fala mais nisso).

Gostaria de ser cão num dia bom, sem chuva, sem frio, sem fome, sem os carros que se atravessam à nossa frente, sem pessoas más, sem outros cães irritados, sem trelas, sem donos. Ser cão de barriga cheia, livre, ao sol e, vá lá, com pulgas porque nada é perfeito.

Rosnar ou morder a quem me irritasse, dar marradinhas e abanos de cauda aos amigos, passear sem destino, dormir ao sol, bocejar com a boca toda em qualquer lado, espreguiçar-me muito, alçar a pata para os xixis e baixar o rabo para os cocós, dormir mais um bocadinho, ladrar com toda a força só porque sim.

Não ter carro, não ter casa, não ter nada, mesmo nada. Não ter de me vestir nem calçar, não ter de me maquilhar, não ter de me preocupar com os cabelos brancos que já se notam nem com a ementa do jantar. Não ter invólucros para exibir nem compromissos para atender. Só ser cão.

Não se preocupem, não ensandeci, mas há dias assim e hoje é um deles.