Finalmente realizei que o que
fica na nossa memória dos Natais passados não são as prendas que recebemos (lá
uma ou outra mais importante fica, claro) mas sim as reuniões familiares. Os
primos, os tios, os pais e irmãos, os avós, todos reunidos há volta da mesa. Da
casa cheia de pessoas, das mesas que se acrescentavam com tábuas para que todos
se acomodassem. Do tio que se vestia de Pai Natal todos os anos, da tia que
fazia um pudim de ir às lágrimas (e diarreia também quando o comíamos quente)
da mãe, da avó e das tias na cozinha, da ronda cerrada que fazíamos às prendas,
da descoberta do choque eléctrico quando brincávamos com as luzes da árvore de
natal e do cão do meu tio, o Faru, que um belo ano resolver fazer xixi por cima
das prendas todas. Ficaram benzidas dizia o meu tio, perante o nosso olhar
horrorizado. Da missa do galo, dos carolos dos primos mais velhos, dos segredos
e experiências trocados com as primas, do meu pai e tios alegres (i.e. bem
bebidos) a fumar uma cigarrada na varanda, para não dar o fanico à minha avó.
Estas são as verdadeiras
recordações dos Natais passados. Das pessoas que por qualquer motivo já não
estão na mesa e que num passado mais ou menos remoto estiveram.
Acabaram-se as venetas de ir
passar o Natal na praia, ao sol. Tenho de elevar o meu pensamento e esquecer a
minha forma estúpida de não gostar do Natal só porque agora somos tão poucos e
que tudo é diferente.
Cabe-me agora a função de proporcionar as mesmas recordações.