segunda-feira, 29 de abril de 2019

Atitudes


Há uns dias, num qualquer canal de televisão, chamou-me a atenção o tema de debate.

Esse tema era o envelhecimento das populações, o isolamento, a pobreza e o abandono por parte de familiares.

Este tema é-me muito caro, uma vez que já não tenho os meus pais e custa-me bastante assimilar filhos que abandonam os pais. Isto, atenção, de uma forma muito directa e simplista de abordar o tema, sem aprofundar motivos.

De qualquer forma é angustiante chegar ao final da vida, sozinha, com filhos ausentes, amigos que já foram. Independentemente do caminho que escolhemos, não deveríamos chegar ao final do mesmo sem o conforto partir, sabendo que fomos importantes para alguém, que nos irá recordar. Nos irá eternizar, melhor dizendo.

Mas isto sou eu a pensar e não é disto que gostaria de falar.

Então, no programa, a certa altura censurava-se o governo de não disponibilizar meios financeiros para criar condições para combater este isolamento. Falou-se nos idosos que viviam e muitas vezes faleciam sozinhos, sem que ninguém se apercebesse ou até se preocupasse com isso, e que só passado algum tempo, por força das circunstâncias, eram encontrados por bombeiros que à força arrombavam as portas.

Diversas vozes se insurgiram contra a ineficácia do governo, - Senhor Primeiro Ministro para ali e para acolá, acusando Ministros, programas de governo e o diabo a sete. O representante lá ia respondendo, informando os mecanismos criados para combater esse isolamento, através da contratação de pessoas que no terreno promoviam visitas regulares a aferir das condições físicas e habitacionais de alguns idosos nessas circunstancias.

Mas todos nós poderemos contribuir para minimizar esse flagelo. Então, eu vivo numa cidade grande, mais precisamente num prédio com 11 andares, onde habitam, maioritariamente rapaziada-de-idade-avançada. Muitos deles sozinhos, por opção ou não. Alguns independentes e catitas outros debilitados e dependentes.

Será que se todos nós dispuséssemos uns minutos do nosso dia a visitar ou a telefonar para o nosso vizinho idoso não seria boa ideia? Prestar apoio, p.e. em ir às compras, conversar um bocadinho, ou até mesmo convidar para vir a nossa casa, partilhar do nosso convívio familiar à mesa.

Porque é que só sabemos reclamar do Governo atitudes que nós não temos para com o nosso semelhante?

Não digo que não tenham culpas no cartório, até porque, a maioria destes idosos têm pensões de miséria e que não permitem contratar apoio adicional ao que a Segurança Social ou Santa Casa da Misericórdia providenciam. Podem estar limpinhos e alimentados, mas acabam por passar demasiadas horas sozinhos.

Da minha parte já faço isso há muitos anos. Este convívio geracional é bastante enriquecedor, não só para nós que proporcionamos estes momentos, como, sobretudo para os nossos filhos que aprendem a ser solidários, pacientes e respeitadores com os mais velhos.

Não podemos ou devemos virar a cara a situações próximas, até porque muitos de nós, com alguma falta de sorte, irá por ela passar e o abandono em que hoje os outros se encontram poderá ser também nosso amanhã.

 

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