Quando não consigo assimilar
determinado assunto ou situação costumo escrever sobre isso.
É um “truque” que utilizo
desde sempre, quando me sinto à beira de-não-saber-para-onde-me-virar ou o que
fazer.
Verbalizar, ou no meu caso escrever sobre o
que sinto ou esquematizar os problemas que tenho de resolver é o meu escape
para não entrar em estados depressivos. Escrevo, leio várias vezes e apago (ou
não quando necessito deles para memória futura).
Mas o assunto que hoje vou
partilhar convosco é um estado de espírito que me afecta há muitos anos, mas
não só a mim, motivo pelo qual aqui está espelhado.
A Morte
A morte faz parte das nossas
vidas, todos dizem. Temos de aceitar, fazer o luto, rezar (para mim não é opção
uma vez que não sou católica) aceitar e aceitar e aceitar.
Pois é, mas eu não consigo. Para
mim a morte, especialmente dos que me são próximos, é uma perda irreparável que
leva meses e até anos a ser digerida, com altos e baixos, com mais ou menos
desespero.
Não consigo aceitar. Nada em mim
consegue aceitar a perda.
Como é óbvio esta minha
incapacidade advém do facto de muito cedo ter sido confrontada com a morte. Os
meus pais faleceram num acidente de viação quando eu era jovem. Em virtude
dessa tragédia, os meus avós encarregaram-se (coitados, que outra coisa
poderiam fazer?) que nunca fizesse o luto. Não podia ficar triste nem sentir
saudades, então devia viajar, sair daqui, fugir de tudo o que me trouxesse à
memória o acidente. Resultado, sem luto não há apaziguamento da dor nem esquecimento.
A dor da perda tornou-se assim
como que mais um órgão acessório que me acompanha deste sempre. E como o
equilíbrio é frágil, todas as perdas que tenho sofrido são sentidas de maneira
demasiado intensa.
Ainda fiz terapia durante uns
tempos, mas, para ser sincera, de nada adiantou.
O que me deixa seriamente
preocupada é que começo a entrar numa idade em que já começo a ser confrontada
com essas perdas, os tios velhotes, os pais dos amigos e até mesmo alguns
amigos que prematuramente nos deixaram.
Tenho mesmo de resolver esta
questão
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