terça-feira, 26 de junho de 2012

Mercearias

Aqui pelo meu bairro o fenómeno das lojas dos chineses está a arrasar com o comércio local.

Então, antigamente eram as lojas de roupa+artigos para casa+artigos de higiene+ tudo o que não fosse para alimentação. Resultado, as lojas de pronto-a-vestir começaram a encerrar para dar lugar a essas megaproduções de made in china. E assim foi durante uns aninhos. Agora estão a diversificar o negócio com o aparecimento de frutarias, tendo como consequência directa o encerramento de algumas (poucas) que teimavam em se aguentar.

Não tenho nada contra isso e sou de opinião que há mercado para todos, desde que a concorrência seja controlada, obviamente. Se os preços descerem, melhor ainda, para o consumidor.

Mas é sempre com alguma mágoa que me apercebo do encerramento de lojas, às quais me habituei durante tantos anos. São pedacinhos da infância que desaparecem. Ali era onde eu comprava os chupas, e ali bebia os pirolitos, ali era onde a minha mãe comprava o pão. De um momento para o outro tudo fica descaracterizado, como se já não fosse meu. E o pior é que, pelo que me apercebo, as lojas de chineses não permanecem por muitos anos, deixando atrás de si, buracos fechados.

Obrigado Senhor Saraiva por resistires. E apesar da idade continuares a tratar a garotada de hoje da mesma forma que me trataste a mim. Pelos rebuçados que me davas à socapa da minha mãe e pelos que dás à minha filha sem que eu veja.

Viva a Dona Marcelina que nos continua a brindar, desde há 40 anos, com flores lindíssimas e o Senhor Tomé que continua a fazer pães pequeninos com chouriço para distribuir pela garotada. E, como os últimos são os primeiros o meu muito obrigada ao Senhor Luís, do talho, que continua a tratar dos joelhos esfolados da garotada que cai no jardim do bairro, interrompendo a sua actividade para dar atenção aos que entram pelo estabelecimento aos berros e ais. Ainda lá tem a cadeirinha pequenina, à entrada da porta, que mandou fazer de propósito para atender esses fregueses aflitos, a mesma caixa dos primeiros socorros. Sem esquecer dos chupas para o aconchego, como ainda hoje diz.


São eles que fazem a diferença e nos aconchegam a alma. Dão-nos a sensação que tudo está no seu lugar. Obrigada