Foi um dia diferente. Tinha então 10 anos. Não houve escola e ninguém sabia muito bem o que se tinha passado, à excepção do meu pai que logo pela manhã se apercebeu que tinha acontecido alguma coisa, de grave. Fez alguns telefonemas e depois, feliz, muito feliz, veio ter connosco à mesa onde tomávamos o pequeno almoço e disse: caiu o governo, acabou-se. As palavras e a alegria do meu pai, o temor da minha mãe deixaram-nos intrigadas. Mas como mais não foi acrescentado e não houve respostas às perguntas que fizemos, fomos à nossa vida, o que quer dizer, fomos para a escola. Quando chegamos, estava tudo fechado. As professoras e continas estavam atarantadas sem saber o que fazer ou o que dizer. Regressamos a casa e já não largamos o rádio e a televisão. Os comunicados foram-se sucedendo ao longo da tarde.
No final do dia, quando o meu pai
regressou a casa, vinha eufórico. Essa imagem de felicidade ficou retida na minha
memória até hoje.
Os anos que sucederam não foram
bons, antes pelo contrário. O país estava economicamente de rastos. Não havia
estabilidade governativa, mas apesar de tudo, respirava-se livremente.
Muitas pessoas queixam-se do desastre pessoal e nacional que
foi a revolução dos cravos, mas eu não. Continuo a achar que foi um
acontecimento único na nossa história e agradeço muito tê-lo vivido.
Podemos mostrar imagens, transmitir ideias às gerações que
nos sucederam, mas não se consegue transpor para palavras os sentimentos que
vivemos, de LIBERDADE.
Por isso, e por tudo, Viva o 25 de Abril, hoje e sempre.




